O ano de 2022 foi marcado pelo recomeço das atividades pós-pandemia. Ainda que com casos de Covid-19 em massa, a mortalidade pós-vacina reduziu consideravelmente. No estado de São Paulo, que deu início à vacinação contra a Covid-19 e fez a maior campanha vacinal do país, o planejamento e a estratégia de vacinação foram ordenados pela biomédica Dra. Regiane Cardoso de Paula, coordenadora em Saúde da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde do estado de São Paulo, que enfatiza que dentre os grandes desafios em combater a Covid-19 está a desinformação, a relutância das pessoas em não se vacinarem e a proliferação de Fake News. “Vivenciamos epidemias de dengue, H1N1, febre amarela, sarampo entre outros e sem dúvida a pandemia trouxe aos profissionais da saúde do SUS o inesperado e ao mesmo tempo a necessidade de uma atuação rápida e oportuna”, destacou.
Na equipe de Regiane apenas duas biomédicas participaram do planejamento de toda a ação da vacinação do estado: ela e a Dra.Tatiana Lang, diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica/CCD/SES_SP. Confira a íntegra da entrevista com a biomédica.
CFBM: Como foi coordenar a maior campanha de vacinação do país durante um período tão crítico, na maior crise mundial de saúde pública, que foi a pandemia da COVID-19?
Dra. Regiane: No âmbito do estado de São Paulo, coube ao Gabinete do Secretário Executivo de Saúde, a Coordenadoria de Controle de Doenças e ao Centro de Vigilância Epidemiológica a coordenação da maior campanha de vacinação da história do Brasil, a Campanha de Vacinação contra a COVID-19, que teve início em 17 de janeiro de 2021, sendo, portanto, o grande destaque da gestão atual.
Destaca-se, neste âmbito, a elaboração e atualização do sistema de registro de doses nominais VaciVida, em parceria com a PRODESP – Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo.
Vale ressaltar que em 17 de março de 2022, o Estado de São Paulo foi o primeiro a cumprir a meta do Ministério de Saúde, com 90% de sua população elegível (+5) com esquema vacinal completo. Como resultado, São Paulo é o Estado que mais vacina no Brasil e segue avançando à medida que as doses são entregues pelo Ministério da Saúde. Atualmente, o Vacinômetro registra mais de 127 milhões de doses aplicadas, resultando em 95,74% da população elegível (+ 06 meses) de São Paulo com pelo menos uma dose e 90,19% com esquema vacinal completo (D1+D2) (fonte: Vacina Já – vacinaja.sp.gov.br
CFBM: Como eram formulados os planejamentos e estratégias de vacinação no estado que deu o “pontapé” inicial na vacinação contra a covid-19?
Dra. Regiane: O Plano Estadual de Vacina Covid-19 (PEI) proposto, apresenta 4 (quatro) eixos centrais (Vigilância, Estrutura e Logística, Assistência/Atenção Básica e Comunicação Social) nos quais foram distribuídas as ações estratégicas, de forma a facilitar a integração das ações programáticas e a compreensão das diversas áreas envolvidas. A divisão nessas temáticas também permite o monitoramento e avaliação, agir pontualmente e corrigir o curso do Plano. Considerando a evolução da pandemia, a organização e estrutura dos serviços de saúde e a definição da disponibilidade de vacinas e etapas da vacinação, o Plano se propôs a apontar a necessidade de organização dos processos de trabalho e diagnóstico da estrutura, de forma que todos os entes envolvidos atuem de forma coordenada nesse novo desafio de vacinação do SUS.
CFBM: Qual foi o período mais difícil para a senhora?
Dra. Regiane: Todas as fases que tínhamos novos públicos a serem vacinados, falta de imunizantes por parte do Ministério da Saúde e principalmente combate a Fake News.
CFBM: Quantos biomédicos compõem a sua equipe?
Dra. Regiane: Atualmente, formados em Biomedicina, somos a Dra. Tatiana Lang e eu.
CFBM: Estamos vendo que o número de casos de covid-19 está voltando a subir. Qual é o atual panorama da situação da Covid-19 em São Paulo?
Dra. Regiane: Atualmente recrudescimento dos casos de Covid-19 e isso se deve principalmente a circulação de novas variantes e a baixa procura pelas doses de reforço de toda população
CFBM: Quais são as suas perspectivas para o gerenciamento dessa nova onda? Acredita que a população voltará para o isolamento social? Essa nova onda terá consequências menos ofensivas do que as anteriores?
Dra. Regiane: Vacinação é a melhor estratégia, ou seja, completar esquema vacinal e o reforço das doses para proteção individual e de toda população.
Hoje, qual é o maior desafio que a senhora vivencia em relação a vigilância em Saúde do estado?
Dra. Regiane: Além da pandemia da Covid-19, desafios como melhoria de coberturas vacinais, eliminação do Sarampo no território, alto risco de reintrodução da Poliomielite e respostas rápida de vírus emergentes e re-emergentes como por exemplo a Monkeypox.
CFBM: Qual foi o maior obstáculo que a senhora enfrentou para que a população se conscientizasse da importância da vacinação?
Dra. Regiane: Fake News… sensibilização de medida não farmacológicas, resistência ao uso de máscara e ao isolamento social.
Como a senhora vê essa situação de pessoas que estão relutantes em se vacinarem (qualquer que seja a vacina) e quais são os prejuízos que isso pode trazer para a saúde pública?
Dra. Regiane: Lamentável. Colocam em risco a vida de seus filhos e de toda a população com a possibilidade de reintrodução de doenças imunopreviníveis que além de graves sequelas podem levar a óbitos.
CFBM: Por favor, discorra um pouco sobre a atuação de um biomédico em um cargo como o seu.
Dra. Regiane: A gestão da saúde pública é um grande desafio para profissionais biomédicos, mas é um orgulho poder fazer a diferença na vida da população atendida pelo SUS.
Dra. Regiane Cardoso de Paula
Biomédica e Coordenadora em Saúde da
Coordenadoria de Controle de Doenças
da Secretaria de Saúde do estado de São Paulo