Entrevista: “Biomédicos têm plena condição de serem excelentes Fisiologistas do Esporte”

1 de julho de 2019

A Biomedicina há algum tempo recebe várias considerações como sendo uma das profissões mais completas da área da saúde. São mais de 30 habilitações com possibilidade de atuação para os mais variados segmentos. Mundo afora, diversos são os profissionais que se destacam no mercado de trabalho e engrandecem a categoria. Entre eles, o Dr. Turíbio de Leite Barros Neto, Biomédico e o primeiro fisiologista de esporte no Brasil.

O mercado de atividades esportiva está cada vez mais exigente, detalhista e com carência de profissionais altamente qualificados para ajudar os times e clubes poliesportivos a atingirem seus objetivos e prepararem da melhor forma seus atletas. Para isso, surge a figura do fisiologista do Esporte, que é o profissional que dá caráter científico de retaguarda para a ciência do esporte, seja para o preparador físico, para o nutricionista, para o fisioterapeuta e até para o médico. Sempre trazendo as informações da ciência para aplicar na prática

“A habilitação em Fisiologia do Esporte ou Biomedicina Esportiva ainda não figura o hall das áreas de trabalho do Conselho Federal de Biomedicina, mas atento às demandas do mercado e às afinidades da área com a grade curricular há expectativa de que logo mais possa ser uma das nossas habilitações”, destacou o presidente do Conselho Federal de Biomedicina, Silvio José Cecchi.

“O Biomédico tem plena condição de ser um grande fisiologista do esporte.  Temos em nossa  grade de formação todas as áreas de estudos necessárias para que sejamos bons profissionais”, avalia Dr. Turíbio sobre as possibilidades de atuação do Biomédico na área da Fisiologia.

Veja a íntegra da entrevista com o Dr. Turíbio Neto, onde ele fala sobre a sua experiência como primeiro Fisiologista do Esporte no Brasil e sobre o campo de atuação para a Biomedicina.

Conselho Federal de Biomedicina: Dr. Turíbio, para iniciar, explique a diferença entre Fisiologia do Esporte e Fisiologia do Exercício

Dr. Turíbio Leite de Barros Neto: A diferença é que todo esporte é um exercício, mas nem todo exercício é um esporte. A Fisiologia do Esporte é o comportamento do organismo durante uma atividade esportiva e Fisiologia do Exercício é o comportamento de uma atividade física durante o exercício.  

Quais são as atribuições de um fisiologista do esporte?

Dr. Turíbio Leite de Barros Neto: Eu costumo dizer que o fisiologista é o profissional que representa a ciência aplicada a todas as áreas relacionadas à atividade física e ao esporte. Ele é o profissional que está sempre atualizado com as exigências científicas e contribui para as diferentes áreas com as quais interage com o conhecimento daquilo que é mais recente dentro da ciência aplicada às diferentes disciplinas. Ele é o profissional que dá caráter científico de retaguarda para a ciência do esporte, seja para o preparador físico, para o nutricionista, para o fisioterapeuta e até para o médico. Sempre trazendo as informações da ciência para aplicar na prática.

CFBM: Como o senhor vê o mercado de trabalho na área da Fisiologia do Esporte no Brasil?

Dr. Turíbio: Essa área é recente. Talvez a mais recente dentro daquelas áreas relacionadas ao esporte e ao exercício. A fisiologia hoje tem um mercado cada vez mais promissor. Na medida que cresce a valorização do conhecimento científico na área do esporte, torna-se cada vez mais importante a participação do profissional da fisiologia do exercício. É fácil perceber que há 20, 30 anos ainda não existia essa área de trabalho. Na medida que ela apareceu, várias entidades sejam esportivas de alto rendimento, clubes poliesportivos e várias outras áreas de trabalho incorporaram a Fisiologia do Esporte através um profissional com boa formação nessa área de conhecimento. É um mercado em expansão, mas que carece de profissionais com boa formação nessa área do conhecimento. Muitos sem a formação adequada se intitulam fisiologistas e comprometem o conceito do mercado em relação a essa área de trabalho

CFBM: Onde atua o Fisiologista do Esporte?

Dr. Turíbio: O fisiologista atua principalmente nas áreas de performance de esporte de rendimento: clubes de várias modalidades esportivas e esportes individuais valorizam cada vez mais a importância dos profissionais da fisiologia. Eles vão ganhando espaço de acordo com a valorização da ciência aplicada ao esporte. É o elo de ligação entre a ciência e a prática. Ele compõe um conjunto de transmissão de informações que vem da ciência e o  transforma em conhecimento prático e transfere para o profissional de preparação física que vai aplicar efetivamente no atleta. Então, o fisiologista atua na captação da informação científica.

CFBM: Como se dá a interação dos fisiologistas com outras profissões da área da saúde que integram as atividades esportivas?

Dr. Turíbio: A interação é a cadeia de profissionais que já comentamos na pergunta anterior. O fisiologista se atualiza por meio de congresso, palestras e estudos para aperfeiçoar o trabalho dos profissionais da área prática. O fisiologista não é um profissional da área prática. Ele é um profissional de retaguarda que transfere informações para outras áreas em relação ás necessidades do atleta. Ele tem que ter relação direta com o preparador físico, com o médico, com o fisioterapeuta e com o nutricionista tentando integrar essas atividades através do conhecimento cientifico

CFBM: Fale um pouco sobre a sua trajetória profissional

Dr. Turíbio: Comecei minha vida profissional com a formação acadêmica na Escola Paulista de Medicina (EPM), em 1969, no curso de Biomedicina. Me formei em 1972 e antes de completar a formação acadêmica me apaixonei pela área de fisiologia. Fui monitor, depois passei a ser professor colaborador na disciplina de Fisiologia. Dei aula para diversos cursos de saúde no âmbito da Fisiologia (sistema nervoso, sistema digestivo, sistema renal, cardiorrespiratório) dentro e fora da EPM e adquiri com isso uma boa bagagem na área. A partir daí fiz meu mestrado e doutorado na EPM, que depois se tornou Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Já como professor contratado, comecei a trabalhar como fisiologista do São Paulo Futebol Clube e tive a honra de ser – e tenho certeza que sou – o primeiro fisiologista do esporte do Brasil. Abri caminhos para muita gente porque o trabalho realizado no SPFC ganhou projeção. Montamos uma estrutura que se tornou referência do esporte no Brasil e ao mesmo tempo montei o Centro de Medicina Esportiva na Unifesp, que começou a formar médicos na área de Medicina Esportiva. O único curso de Medicina Esportiva no Brasil para a época. Eu era o coordenador e o coordenei por mais de 20 anos. Publiquei mais de 140 artigos científicos, editei 6 livros, ganhei o prêmio Jabuti de Literatura no ano 2000. Tive várias recompensas profissionais, tanto pelo meu trabalho na Unifesp, como pela projeção do trabalho que desenvolvi no SPFC. A partir daí consegui formar um grupo forte na Unifesp do qual fazia parte vários profissionais da área médica que hoje está em posição de destaque.

Me aposentei em 2010, após 35 anos de trabalho e docência. Me desliguei do SPFC. Fiquei dois anos ainda atuando com o Esporte Clube Pinheiros, agora moro nos Estados Unidos e sou consultor de empresas brasileiras e internacionais na área da ciência do esporte

CFBM: Fale um pouco sobre a sua relação com a biomedicina e como e por que escolheu trabalhar com fisiologia

Dr. Turíbio: Na verdade, entrei como candidato ao curso de Biomedicina em 1969, tive uma nota muito boa de aprovação. Pela nota eu poderia, se fosse minha intenção, obter uma vaga no curso de Medicina na Unifesp. Mas, sempre tive obsessão por pesquisa e o curso de Biomedicina da Escola Paulista de Medicina sempre foi um curso voltado para pesquisadores das áreas de Ciências Básicas das áreas da saúde. Isso provocou uma identificação entre mim e a Biomedicina. Queria ser um pesquisador e um docente e eu consegui. Minha carreira atendeu aos meus objetivos. Sou um profissional realizado e sou grato ao curso que fiz. A Biomedicina, assim como a fisiologia, tem um pouco de tudo. Ela é uma integração com todas as áreas e quando aplicadas ao esporte temos uma visão plena de quais são as necessidades básicas a serem aplicadas ao indivíduo que faz esporte

CFBM: O CFBM tem trabalhado para aprovar a habilitação em Fisiologia do Esporte como mais um campo de atividade para os biomédicos, qual a sua avaliação em relação a inserção desta categoria profissional na área?

Dr. Turíbio: Eu acredito que o profissional Biomédico tem plena condição de ser um grande fisiologista do esporte. Ainda mais se a gente pensa que a Fisiologia do Esporte – ou até podemos chamar de Biomedicina Esportiva – como uma área que pode e deve trazer grande contribuição para esse segmento. O Biomédico está plenamente identificado com tudo isso. Em sua grade de formação ele tem todas as áreas de estudos necessárias para que se forme com um profissional com essa retaguarda. É muito importante que o profissional que escolheu por essa área faça uma boa formação acadêmica e comece a enxergar o campo de trabalho melhor, acompanhe os eventos da área, faça parte dos projetos de pesquisa das ciências do esporte. Comece a se envolver e se identificar com isso. A possibilidade de ter um curso de formação latu sensu especificamente voltado para essa necessidade vai proporcionar a chance de um profissional biomédico no mercado de trabalho. Eu acho que pela natureza de sua formação, o Biomédico pode ser um grande profissional da área da ciência do esporte.

CFBM: Quanto ganha em média um Fisiologista do Esporte no Brasil?

Dr. Turíbio: É muito difícil estabelecer um padrão de referência até porque estou fora do Brasil há 3 anos. Mas, o que vejo é que depende muito da praça onde ele atua, depende da entidade que vai contratar e depende da formação profissional. É fundamental que quem se interessar pela área de fisiologia consiga fazer uma pós-graduação, se torne um pesquisador da área e mantenha retaguarda acadêmica para enriquecer seu currículo e atingir os níveis mais altos de salário dentro do mercado. É muito difícil a gente imaginar quanto ganha hoje porque as variáveis são muitas, o mercado está crescendo. Mas, eu tenho certeza que é um mercado promissor.

Dr. Turíbio Leite de Barros Neto
Mestre e Doutor em Fisiologia do Esporte
Biomédico
1º Fisiologista do Esporte do Brasil





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