Bárbara Arranz é a primeira biomédica especializada em terapia canabinoide. Possui formação acadêmica sólida em Biomedicina e uma paixão pelo potencial terapêutico da cannabis, ela encontrou motivação em sua experiência pessoal como mãe de um filho diagnosticado com autismo, cuja notável melhora por meio da terapia canabinoide, a inspirou a se aprofundar nesse campo.
Através de evidências científicas, Bárbara busca esclarecer equívocos sobre o uso terapêutico da cannabis e contribuir para o progresso da pesquisa e regulamentação do assunto. Sua dedicação à saúde dos pacientes a torna uma referência e impulsiona o desenvolvimento dessa temática na área da Biomedicina.
Confira a entrevista na íntegra
CFBM: Como você decidiu se especializar em medicina canabinoide e quais foram os principais fatores que influenciaram sua escolha nessa área específica?
Bárbara Arranz: Minha decisão de me especializar em medicina canabinoide foi impulsionada pela minha experiência pessoal como mãe de um filho diagnosticado com autismo condição 1, uma condição do espectro autista. Ao buscar alternativas de tratamento, descobri os potenciais benefícios do CBD e me aprofundei nos estudos sobre cannabis medicinal. A melhora significativa na qualidade de vida do meu filho e o desejo de ajudar outras pessoas motivaram minha escolha nessa área específica.
CFBM: Como a sua formação acadêmica em Biomedicina foi direcionada para a área de medicina canabinoide e quais foram os principais conteúdos e áreas de estudo que você explorou durante a sua especialização?
Bárbara Arranz: Durante minha formação em Biomedicina, aproveitei oportunidades de aprimoramento na área de medicina canabinoide. Além do curso de graduação, busquei especialização na Learn Sativa Cannabis, localizada na Flórida, nos Estados Unidos e também participei da primeira turma do curso na Paróquia do Padre Ticão (hoje o curso da Unifesp) onde adquiri conhecimentos específicos sobre os mecanismos de ação dos canabinoides, suas aplicações clínicas e as evidências científicas disponíveis. Explorei áreas como a farmacologia dos canabinoides, os diferentes compostos presentes na planta de cannabis, métodos de extração e formulação de produtos, além de estudos de caso e pesquisas clínicas relacionadas à eficácia terapêutica da cannabis.
CFBM: Como você avalia a segurança e eficácia do uso da cannabis como medicamento?
Bárbara Arranz: Avaliar a segurança e eficácia do uso da cannabis como medicamento é um processo contínuo e complexo. A segurança da cannabis medicinal depende de vários fatores, como a qualidade dos produtos, o controle de dosagem, a monitorização médica adequada e a consideração de possíveis interações medicamentosas. Em relação à eficácia, existem evidências científicas crescentes que demonstram o potencial terapêutico da cannabis em diversas condições médicas, como no controle da dor crônica, tratamento de convulsões em certos tipos de epilepsia e alívio de sintomas relacionados a tratamentos de câncer. No entanto, é importante que cada caso seja avaliado individualmente, levando em consideração o histórico médico e as necessidades específicas de cada paciente.
CFBM: Quais são os principais mitos ou equívocos comuns sobre o uso medicinal da cannabis e como você lida com eles em seu trabalho?
Bárbara Arranz: Um dos principais mitos sobre o uso medicinal da cannabis é a associação exclusiva da planta ao seu uso recreativo ou o vínculo ao vício. Muitas vezes, a cannabis medicinal é estigmatizada e mal compreendida. No meu trabalho, busco desmistificar esses equívocos, fornecendo informações precisas e cientificamente embasadas sobre os benefícios terapêuticos da cannabis. Educar os pacientes e o público em geral sobre os reais usos medicinais da cannabis e seus compostos, bem como compartilhar evidências científicas, são estratégias fundamentais para combater esses mitos.
CFBM: De acordo com sua experiência, quais são os maiores desafios enfrentados pelos profissionais que trabalham com medicamentos canabinoides e como você lida com questões éticas e legais permitidas ao uso terapêutico da cannabis?
Bárbara Arranz: Os profissionais que trabalham com terapia canabinoide enfrentam diversos desafios. Um dos principais é a falta de regulamentação clara e uniforme em relação ao uso terapêutico da cannabis em diferentes países e regiões. A legislação pode variar significativamente, o que dificulta a prescrição, o acesso dos pacientes e a realização de pesquisas clínicas. Além disso, há a necessidade de uma base sólida de evidências científicas para embasar as práticas clínicas, o que ainda está em constante evolução.
Quanto às questões éticas, é fundamental garantir a segurança e o bem-estar dos pacientes, além de seguir os princípios éticos estabelecidos na prática médica. Isso inclui a obtenção do consentimento informado dos pacientes, o monitoramento cuidadoso dos efeitos e possíveis interações medicamentosas, a consideração dos riscos e benefícios e a transparência nas informações fornecidas aos pacientes.
No aspecto legal, é necessário estar atualizado em relação às regulamentações locais e agir de acordo com elas. O cumprimento das leis é essencial para assegurar a legalidade e a integridade do trabalho realizado com a terapia canabinoide.
CFBM: Considerando o cenário em constante evolução da legalização da cannabis em diferentes países, como você acredita que a regulamentação afetará a prática da medicina canabinoide no futuro e quais são as principais mudanças que você espera ver na área?
Bárbara Arranz: A regulamentação da cannabis afetará significativamente a prática da medicina canabinoide no futuro. À medida que mais países avançam na legalização da cannabis para fins medicinais, é esperado um aumento na disponibilidade de produtos canabinoides, uma maior padronização dos protocolos de prescrição e uma melhoria no acesso dos pacientes a esses medicamentos.
Espero ver uma regulamentação mais abrangente e clara que permita aos profissionais de saúde prescreverem cannabis medicinal de forma segura e eficaz, com diretrizes baseadas em evidências científicas sólidas. Também é importante que haja investimentos contínuos em pesquisas clínicas para expandir o conhecimento sobre os benefícios terapêuticos da cannabis e seus compostos.
CFBM: Há quanto tempo mora fora do Brasil e como tem sido exercer a pesquisa de canabinoides nesse país sendo brasileira?
Bárbara Arranz: Estou fora do Brasil a quase 4 anos ( completará 4 anos em fevereiro de 2024) , atualmente na Espanha, onde tenho exercido minha profissão e atuação na área da Cannabis. É interessante notar que, embora seja desafiador exercer essa profissão em um contexto internacional, especialmente por ser brasileira, tenho encontrado apoio e oportunidades para contribuir com o avanço do conhecimento sobre a cannabis medicinal.
CFBM: Como recepcionou a resolução do CFBM que autoriza a prescrição de medicamento à base de cannabis por biomédicos?
Bárbara Arranz: Recebi com grande entusiasmo a resolução do CFBM que autoriza a prescrição de medicamentos à base de cannabis por biomédicos. Essa resolução representa um marco importante no reconhecimento do potencial terapêutico da cannabis e na ampliação das opções de tratamento disponíveis para os pacientes. Acredito que essa medida abrirá novas possibilidades para a pesquisa e o desenvolvimento de terapias canabinoides no Brasil.
CFBM: Como vê o futuro da pesquisa de cannabis dentro da Biomedicina?
Bárbara Arranz: Quanto ao futuro da pesquisa de cannabis dentro da Biomedicina, vejo um cenário promissor. Com a crescente aceitação e reconhecimento dos benefícios terapêuticos da planta, acredito que haverá um aumento significativo na demanda por estudos científicos e ensaios clínicos que explorem seu potencial terapêutico em diferentes condições médicas. É essencial que a pesquisa continue avançando, buscando evidências robustas e aprimorando nosso entendimento sobre os canabinoides, seus mecanismos de ação e suas aplicações clínicas.
Eu como primeira biomédica a trabalhar com terapia canabinoide no Brasil afirmo estar muito feliz e honrada por fazer parte desse momento histórico! Nós biomédicos temos 100% da capacidade de desenvolver, aprimorar diagnósticos, monitoramento e tratamentos!