Gabriel Lins, pesquisador da área de saúde e tecnologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é o primeiro biomédico brasileiro a realizar pesquisa na Antártica relacionada à saúde humana. Com a sua atuação no projeto SaúdeAntar, coordenado pelo professor Jairo Werner, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e com apoio do Instituto de Pesquisas Heloisa Marinho (Iphem) e da Marinha do Brasil pelo edital do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Lins foca em telemedicina e saúde mental em ambientes extremos. Recentemente, ele assumiu a liderança de um grupo de trabalho em Inteligência Artificial dentro do novo segmento do projeto após sua renovação, denominado SaúdeAntar-IA, que visa integrar a Inteligência Artificial para aprimorar o atendimento em saúde. A coordenação do projeto continua com o professor Jairo Werner.
Atualmente cursando o doutorado na Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio) na UFPE, mestre em Neuroengenharia pelo Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra, do Instituto Santos Dumont (ISD), em Macaíba (RN), especializado em Tecnologias Médicas em áreas remotas, e formado em Biomedicina também pela UFPE, Gabriel Lins é o diretor-executivo da DiagÁgil, uma startup incubada no Polo Tecnológico e Criativo (Polo Tec) da UFPE, e coordenada pela professora Rosa Dutra, do Departamento de Engenharia Biomédica da Universidade, que desenvolve soluções para diagnósticos precisos em saúde.
Seu trabalho multidisciplinar na Antártica tem como objetivo principal entender o impacto do isolamento na saúde mental, contribuindo significativamente para a ciência e a medicina descentralizada. E, ainda, as tecnologias aplicadas por lá estão sendo feitas de forma a poderem ser aproveitadas por outros campos da Medicina.
EXPLORAÇÃO – Durante sua estadia na Antártica, que ocorreu de 23 de novembro de 2023 a 23 de janeiro de 2024, Gabriel Lins foi o primeiro biomédico brasileiro a atuar diretamente na pesquisa em saúde humana no continente gelado. Ele explica que, embora já tenha havido pesquisas relacionadas à saúde na Antártica, estas eram predominantemente realizadas por médicos e psicólogos. Sua pesquisa marcou a entrada efetiva dos biomédicos nesse contexto.
Em seu estudo pioneiro, Lins se concentrou em coletar dados sobre sono e saúde mental durante a operação na Antártica. Ele coletou informações de mais de 30 participantes, incluindo pesquisadores e militares, com o objetivo de estudar as alterações decorrentes do ambiente isolado, confinado e extremo (ICE). Segundo Lins, esta fase foi apenas o começo, e os próximos passos envolvem intervenções tecnológicas, incluindo o uso de sistemas de telemedicina e aplicativos para dispositivos móveis num primeiro momento, até mesmo o uso de biossensores para diagnósticos rápidos, como os desenvolvidos na DiagÁgil, posteriormente.
Essas ferramentas, que visam atender às necessidades de saúde em ambientes ICE, terão o objetivo de fornecer monitoramento e assistência à saúde de forma digital, levando em consideração as limitações impostas pelo ambiente extremo da Antártica.
Gabriel Lins agora lidera um grupo de trabalho voltado para a Inteligência Artificial e tecnologias digitais dentro do projeto SaúdeAntar-IA. Com base em dados coletados ao longo dos últimos quatro anos, sua equipe identificou quatro grandes tipos de reações emocionais relacionadas à resiliência das pessoas em ambientes extremos. Embora os detalhes completos estejam em processo de submissão para publicação, Lins adiantou que essas informações serão usadas para prever características de sono e humor, permitindo o desenvolvimento de ferramentas de assistência à saúde.
CONTRIBUIÇÕES – A pesquisa de Gabriel Lins e sua equipe na Antártica representa uma contribuição significativa para a compreensão dos desafios de saúde mental em ambientes isolados e extremos. Além disso, sua liderança no desenvolvimento de soluções tecnológicas, como o uso da Inteligência Artificial, promete melhorar o atendimento médico em locais remotos, não apenas na Antártica, mas em outras regiões do mundo onde o acesso à assistência médica é limitado.
Lins enfatiza a importância de expandir o acesso à saúde em todas as regiões, independentemente de quão remotas sejam. Sua experiência na Antártica destaca a necessidade de desenvolver tecnologias, protocolos e técnicas para enfrentar os desafios de recursos limitados, onde uma emergência de saúde pode exigir cooperação internacional para garantir um atendimento adequado.
Gabriel Lins continua seu trabalho pioneiro na Antártica, com planos de retorno em breve para validar as tecnologias desenvolvidas e implementar novas funcionalidades, incluindo um aplicativo de assistência em saúde mental baseado nos dados coletados ao longo dos últimos quatro anos. Seu comprometimento em levar a saúde a todos os cantos do mundo, independentemente das condições adversas, é um testemunho da dedicação de pesquisadores da UFPE que, assim como ele, são dedicados à ciência e à medicina descentralizada.
Fonte: UFPE