Fazer um relato sobre o meu olhar em relação a China talvez seja muito pequeno diante de toda a grandeza que esse país tão lindo representa. Não importa a idade, a origem, ou a sua experiência cultural, pois, em sua imensidão, a China abriga muitas Chinas. Existe aquela China rica em superstições, aquela China cultural, a China alegre e a China criativa, mas em especial aquela que mais me encanta, a China da cura. Uma visita ao pais muda a vida do visitante pra sempre. Por exemplo, o número 8 é considerado da sorte, em contra partida, o número 4 não é sinal de bons presságios. Quando se entra num templo sagrado deve-se pular a soleira da porta para não tropeçar e com isso levar maus espíritos.
È um povo que divide o seu cotidiano entre a vida moderna e as raízes de um passado milenar. Ha uma mistura de heranças culturais como a dinastia Ming deixando até hoje a Cidade Proibida e seus mistérios. Em meio a isso tudo surgiram os arranha-céus, dando origem aos grandes centros urbanos, ostentando sua riqueza e poder e tudo isso misturado a monumentos históricos conservando a tradição cultural milenar que teima em não deixar de existir.
A China é um lugar que tem um cheiro característico. Ao desembarcar do avião já se sente a China de névoas densas envolvendo as grandes metrópoles e as pequenas cidades. Por sua localização geográfica repleta de montanhas talvez isso pareça ser normal, porém o motivo principal é a poluição das fábricas e automóveis. Mais uma vez o velho e o novo juntos em harmonia em prol do desenvolvimento. O que dizer então da sua medicina tradicional? Essa é fascinante. As crianças crescem praticando os ensinamentos milenares dos mestres antigos que são passados de geração em geração e com segredos guardados a sete chaves em que cada família possui a sua receita.
Enquanto estive imerso em meus estudos, pude vivenciar isso dentro dos centros acadêmicos e hospitalares mais modernos, onde a tecnologia e os ensinamentos antigos dividem o mesmo espaço, como dizem os chineses, com raízes e ramos de árvores. Nas cidades de Beijim,Jiangxi,Shandong foi possível aprender a essência de sua medicina e a simplicidade com que se trata inúmeras doenças que na visão da patologia estudada pela medicina tradicional é chamada de síndromes, que por sua vez provocam a desarmonia da energia vital (Qi) ocasionando desequilíbrio energético dos órgãos. Essa desarmonia pode estar tanto em excesso quanto deficiente. Desde um torcicolo ocasionado por uma invasão de vento frio a uma paralisia facial, ou ainda um herpes zoster, é possível se tratar apenas com uso de técnicas simples como massagem e ventosaterapia, que hoje está em evidencia nos meios de comunicação, depois de vermos alguns atletas olímpicos exibirem em seus corpos as marcas deixadas pela sucção e agulhas aquecidas com ervas medicinais.
A medicina chinesa não se resume somente ao que conhecemos aqui no ocidente com acupuntura. Existem muitas técnicas como as que citei acima, as agulhas são o último recurso do tratamento.
Alimentação na China talvez cause certa estranheza, mas muitos alimentos fazem parte de um tratamento médico ao que chamam de dietoterapia chinesa, onde a cura se dá por meio de uma alimentação direcionada. Por exemplo, em cada estação do ano há alimentos que devem ser evitados devido as suas características. As refeições dificilmente se iniciam sem antes degustar um bom chá de jasmim, que prepara nosso estomago para receber os alimentos. Houve dias que durante os intervalos de atendimentos, os colegas médicos degustam escorpiões desidratados como petiscos e não aceitar pode deixá-los bem chateados. Segundo eles, o alimento é bom alimento para beneficiar a energia de nossos rins. Então, o tratamento médico começa pela ingestão dos alimentos.
Não posso deixar de citar aqui também a prática de exercícios corporais que também são realizados como forma de tratamento um exemplo é o Qigong, uma técnica de movimentos no qual se trabalha a saúde dos 12 orgãos internos, e segundo a tradição chinesa se refere ao cultivo de energia vital(Qi). Todos esses conceitos parecem ser complexos, mas quando se está na China tudo isso faz parte do cotidiano e o aprendizado se torna simples e agradável. A medicina esta intimamente relacionada com a natureza.
O povo chinês em sua maioria sabe da importância de estar conectado com a natureza e aproveitar os benefícios que ela oferece em sua totalidade. Eu, como qualquer biomédico tenho em minha essência a curiosidade e a busca constante por conhecimento, e a China tem de sobra para oferecer. Foi em busca desses valores que fui motivado a embarcar nessa aventura. Foram dias inesquecíveis.
Aconselho aos meus colegas que desejam seguir por esse caminho, que tenham como rota obrigatória a China, pois
só estando lá que se terá noção de quão grandiosa é a medicina tradicional chinesa e poderá vivenciar no dia a dia, como também sua história, sua filosofia, sua arte, etc… Não tem preço sentir o vento na grande muralha, pisar no mesmo solo, andar pelos corredores da universidade onde Confúcio escreveu seus pensamentos que até hoje fazem parte de nossas vidas.
A China encanta até em seu interior, como na cidade de Shandong, onde super vale experimentar a calma dos lagos e rios, as embarcações de bambus e as belas montanhas. Aqueles que tenham desejo por mudanças profissional e pessoal embarquem nessa incrível jornada.
Dr. Romualdo Melo
Biomédico, formado pela Universidade Metodista de São Paulo (2005)
Em 2012 viajou para a China para fazer cursos avançados de Medicina Chinesa